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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Lei 10.639/03:arte e cultura de matriz africana e os professores

Quase 13 anos após o sancionamento da Lei 10.639/03 (Obrigatoriedade do ensino da História das Culturas Africanas e Afro-Brasileira), me surpreende como ainda há profissionais que atuam na área da educação que não possuem informações e formações adequadas e básicas à efetivação da mesma.
Não tivemos significativos avanços no que se refere à oferta bibligráfica e mesmo considerando os títulos disponíveis no mercado, podemos dizer que alguns possuem conteúdos bem duvidosos no que se refere à qualidade das pesquisas transformadas em texto para docentes ou estudantes.
 O que me deixa realmente mais tranquila é o fato de que muitas Secretarias de Educação Municipais e Estaduais têm em seus quadros de funcionários supervisores e coordenadores realmente comprometidos com a efetivação da lei e que compreendem e valorizam esta conquista. Sim, mesmo sendo à força (forca!) a lei é uma conquista e garantia de que meus filhos, se porventura os tiver, terão acesso a um conhecimento sobre meus antepassados que eu não tive.
Certamente, em vez de sair da aula de história que aborda o tema da escravidão se sentido humilhados por terem seus antepassados escravizados e chicoteados e serem ESTAS as imagens (Rugendas e Debret) que ainda são enfatizadas por muitos docentes, eles saberão também o quanto foi fundamental para o desenvolvimento de nosso país o conhecimento metalúrgico, agropecuário, enfim, tecnológico trazido pelos nossos pretos e pretas velhos. Ao serem chacoteados por seus colegas, geralmente brancos e, em muitos casos mestços que não sabem negros, no momento do "recreio" terão condições de elaborar respostas pautadas em dados históricos. Isso se eu for mãe e conseguir fazer com que meus filhos sejam crianças que não tenham dificuldades para se expressar publicamente.

Para além dos conhecimentos, tem um lado desta história que têm sido pouco explorado e que é tão importante quando o assuntos que serão ensinados: educar para a diversidade tanto os alunos quanto os docentes. A quantidade de docentes que são racistas, discriminadores e preconceituosos e que não reconhecem em suas atitudes tais práticas é absurda! Racismo, discriminação e preconceito não se manifestam e se praticam somente por meio de atos de privação e violência física como as cenas que anos atrás víamos na televisão relacionadas à África do Sul. Há comentários, aparentemente inofensivos para as concepções de alguns adultos, por vezes, educadores, que são devastadores na constituição da personalidade e da auto-estima positiva de crianças negras. Só o elogio feito freuqnetemente às crianças brancas na frente das crianças negras já é uma marca difícil de se apagar: "por que não sou elogiada nunca?". Nós mulheres quando o namorado comenta que outra mulher é bonita já nos tornamos umas bruxas. Imagem, então, uma criança. Fora do ambiente da minha casa junto dos meus parentes, de minha mãezinha e paizinho que tanto cuidaram da gente, eu não era lindinha, fofa, o tempo todo. Percebia certa diferenciação até ter uma professora negra (que se sabia negra), na quarta série: Neusa. E na quinta série a Rosangela, mestiça e consciente de toda essa problemática, que muito me elogiava em  uitos sentidos. Sabia reconhecer qualidades mais impacialmente. Quando me tornei adulta e me descobri bela, à princípio achava que era, mais uma vez, tiração de sarro, sério, viu, gente?
 Esta parte também deve ser trabalhada urgentemente. Expressões e palavras como "de cor", "cabelo bom, cabelo ruim", "escurinho", dentre outras usadas para se referir eufemisticamente ou nnegativamente à aparência de crianças negras devem ser banidas do vocabulário escolar. Bem como os professores devem intervir de forma crítica e assertiva no caso de "brincadeiras" que se estendem no ambiente escolar: "filhote de urubu", "neguinha macumbeira", "tição". Quem não conhece, adora, ri e reconhece situações vividas em ambiente escolar que se assemelham a estas quando assiste "Todo mundo Odeia o Chris"? Hoje é engraçado, porém é a história de um homem negro, hoje ator e comediante, que sofria com o ruivinho Caruso e com a atuação preconceituosa da professora Srta. Morello (que se parece com muita gente por aí).

Não precisamos de mais Srtas. Morello por aí lecionando para as nossas crianças negras e brancas, fazendo diferenciações e tirando conclusões a partir de seus próprios preconceitos. "Todo mundo adora o Chris"!
Então, meu povo, o trabalho é grande! Só nesta semana ministrei dois cursos com oficinas. Um promovido pelo engajado Allan (é uma) da Rosa (Edições Toró) e outro pelo SESC Sorocaba em parceria com a Secretaria de Educação da mesma cidade. Que lindo o brilho nos olhares dos participantes que queriam aprender para que se tornassem melhores educadores, para professar informações consistentes junto aos seus pupilos.






Dia 21 de maio de 2011: "Teias das expressão, Chamas da reflexão", Palestra com oficina sobre arte feita por artistas afrodescendentes brasileiros e norte-americanos. Organização das Edições Toró (Allan da Rosa) em parceria com SMC. Iniciativa de qualidade, apoiada e feita banhada em sangue, suor e socialização de informação e conhecimento. Também ministraram aulas Marcelo de Salete (artista plástico, quadrinista e pesquisador) e Luciane Ramos (pesquisadora, antropóloga e bailarina).







Dia 24 de maio de 2011: Abertura do ciclo de seminário para formação de coordenadores de escolas da rede pública estadual de Sorocaba "A África Também Está Aqui", promovido pelo SESC e pela Secretaria de Educação de Sorocaba, com 130 presentes!!. Tive que ler um trecho de "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus no final:"O branco é que diz que é superior. Mas que superioridade apresenta o branco? Se o negro bebe pinga, o branco bebe. A enfermidade que atinge o preto, atinge o branco. Se o branco sente fome, o negro sente. A natureza não seleciona ninguém". Eita, que mulher inteligente! 
Como muita gente me escreve via Facebook e email solicitando HELP, escrevo este texto e desabafo já com algumas indicações de livros que podem ser lidos para formação docente e também para desenvolvimento de propostas junto à criançada.
Mais adiante socializarei atividades que desenvolvi tanto enquanto trabalhei como educadora, consultora e coordenadora no Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil quanto as que elaborei posteriormente, agora como profissional independente e ligada ao Instituto Sidarta. Diga-se de passagem, que o Museu Afro Brasil com toda a sua potencialidade, mesmo sendo, primeiramente, um espaço para salvaguardar a produção artística e cultural afrodescendente, deveria ter em sua gênese este papel de ser um espaço formador e conscientizador de professores. Porém, não como uma ação pontual como já ocorreu em alguns momentos, mas sim como um programa constante porque é para esta instituição que muitos professores e educadores se dirigem quando possuem dúvidas. Deveriam abraçar com carinho estas causas inerentes à sua existência e não se trata de desvirtuar a sua atuação, afinal de contas, o Museu Arte de São Paulo oferece curso de História da Arte, ainda que pago, faz tempo... Gente, please, chega de arte-educação: ARTE É EDUCAÇÃO!



O Museu Afro Brasil tem potencialidades para promover um curso contínuo voltado à formação docente focada na Lei 10.639/03. Por que não o faz?
Este texto também é para comemorar nossos
3.000 acessos desde fevereiro!

Livros fundamentais para se pensar no planejamento com assuntos relacionados à Lei 10.639/03:

Livros indicados para formação/ ampliação de repertório docente:


AGOSTINHO NETO. Sagrada esperança. Luanda: Edições Maianga, 2004.
BARBIERI, Renato. Na rota dos orixás (fita de vídeo - VHS). Aspectos da Cultura Brasileira. São Paulo: Idealização e Realização Instituto Itaú Cultural, 1998.
CAROSO,Carlos & BACELAR, Jeferson. Organizadores. Faces da tradição Afro-Brasileira: Religiosidade, Sincretismo, Anti-Sincretismo,Reafricanização,Práticas Terapêuticas,Etnobotânica e Comida.Rio de Janeiro: Pallas ; Salvador, BA: CEAO, 1999.
CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 11ed. São Paulo: Global 2001.
______. História da Alimentação no Brasil. 3 ed. São Paulo: Global, 2004.

CASHMOR, Ellis.  Dicionário de Relações Étnicas e Raciais – São Paulo.
Ed. Selo Negro. 2000.
CASTRO, Yeda Pessoa de. Falares africanos na Bahia: um vocabulário Afrobrasileiro. 1. ed. Rio de Janeiro: Topbooks Ed., 2001.
FERRAZ, Isa Grinspum. O povo brasileiro: Brasil crioulo (fita de vídeo - VHS). São Paulo: Idealização e Realização Instituto Itaú Cultural, s.d.FERREIRA, Ricardo Franklin. Afrodescendente: uma identidade em construção. São Paulo: Edusp, 2000.
FONSECA, Regina M. O povo brasileiro (fita de vídeo - VHS). São Paulo: Idealização e Realização Instituto Itaú Cultural, s.d.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: a formação da brasileira sob o regime patriarcal. 47. Ed. São Paulo: Global Editora, 2003.
GASPAR. Eneida, D. Guia de religiões populares do Brasil. 1 reimpressão. Rio de Janeiro: 2004
GAUDITANO, Rosa & TIRAPELI. Festas de fé.São Paulo, Metalivros, 2003.
GILROY, Paul. O atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Editora 34. Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
HAMPÂTÉ BÂ, Amadou. Amkoullel, o menino Fula. São Paulo: Pallas Athena: Casa das Áfricas, 2003.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936.
HUG, Alfons (coord.) Arte da África. Obras-primas do Museu Etnológico de Berlim. Centro Cultural Banco do Brasil, 2003.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2001.
JUNIOR, Vilson Caetano de Souza – O banquete sagrado: notas sobre os “de comer” em terreiros de Candomblé. Salvador, Bahia. Atalho, 2009.
KI-ZERBO, J (coord.). História Geral da África. Metodologia e pré-história da África. São Paulo: Ática; Unesco, 1982. Vol. 1
LODY, Raul. Santo também come. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1998.
LODY, Raul.Dicionário de Arte Sacra e Técnicas Afro-Brasileiras.Rio de Janeiro. Pallas, 2003.
M´BOKOLO, Elikia. África Negra. História e Civilizações. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2009. Tomo 1 ( até o século XVIII)
MAGGIE, Yvone; REZENDE, Claúdia Barcellos (Org.). Raça como retórica: a construção da diferença. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
MEYER, Laure. Objectos africanos. Vida quotidiana, ritos, artes de corte. Lisboa: Livros e Livros, 2001.
MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. Coleção tudo é história. vol.12. 4 ed. Ed. Brasiliense.1985.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. Companhia das Letras. São Paulo. 2001
QUERINO, Manuel. Costumes africanos no Brasil. 2 ed. – Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, FUNARTE, 1988.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SANTOS, Gislene Aparecida dos. A invenção do ser negro: um percurso das idéias que naturalizaram a inferioridade dos negros. São Paulo: Educ: Fapesp; Rio de Janeiro: Pallas, 2002a.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
______, Lilia Moritz. Racismo no Brasil. Publifolha, 2001. (Série Folha Explica).
______, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
SILVA, Alberto da Costa e. A Enxada e a Lança. A África antes dos Portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Edusp, 1992.
______, Alberto da Costa e. A Manilha e o Libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002.

SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira. 2 ed. São Paulo: Selo Negro, 2005.
SODRÉ, Muniz. Claros e escuros: identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis (RJ): Vozes, 1999.
TAVARES, Ana Paula. Poesia. Luanda: Edições Maianga, 2004.
______, Ana Paula. Reis Negros no Brasil Escravista. Belo Horizonte: UFMG, 2002
VERSWIJVER, Gustaaf et al (edit.) Treasures from The Africa-Museum Tervuren. Tervuren: Royal Museum for Central Africa, 1995.

ARAÚJO, Emanoel. A mão afro-brasileira: significado de sua contribuição artística e histórica (catálogo da exposição). São Paulo: Tenenge, 1988.
SANTOS, Regiane Augusto de Mattos. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Artistas negros/ afrodescendentes: não querem ser escravos de uma temática na Arte!

Da série "Afro-Retratos" que estou desenvolvendo desde final de 2010 inspirada em mulheres de etnias angolanas. Leia o texto para saber mais sobre o motivo dele estar aqui...

Após os anos como educadora, consultora e depois coordenadora no Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil, pude constatar que quando se trata de arte feita por artistas negros ou afrodescendentes, os curadores, a crítica e, talvez, o público, procuram por traços de uma certa "negritude" presente visualmente nas obras. Um momento gente, uma grande e longa pausa para reflexão... Arte tem como gênese o que mesmo? Visualidade e criação. Acredito que seja este binômio. O artista, independente de onde ele esteja cria algo para que vejamos, observemos. Isto sempre em primeiro lugar.
Por que é então que os artistas de pele escura têm, por missão, que tratar de suas raízes negras em suas obras com este viés que pode ser afirmativo (claro!), mas que, geralmente, é "folclorizador", "estereotipador" e por que não dizer "limitador" de suas capacidades e necessidades criativas? "Ah, sim, isso é arte 'afro-brasileira', observe o oxê de Xangô!"Ou ainda, "Sim, veja a arte 'negra' com búzios aplicados e uma geometria que se refere aos panos africanos!". Eu gosto de muitas destas obras. Os trabalhos de Mestre Didi, por exemplo, são belos, inegavelmente. São atávicos, nos remetem à uma ancestralidade mais imaginada do que real se pensarmos nos laços consanguíneos, na questão das origens geográficas, dos nomes das etnias de nossos antepassados, etc.
Mas, por que é que o artista negro não pode ter a liberdade para desvincular-se do tema da religiosidade afro-brasileira? Sim, ela é presente, forte e é um dos alicerces da cultura afro-brasileira. Melhor, brasileira, porque tem muita gente do santo que não tem coragem ou espaço para manifestar a sua afinidade religiosa. Por que temos que nos prender aos grilhões da visualidade negra que desejam de nós artistas negros, ou mesmos, pessoas negras expressemos via nossa produção ou nosso corpo?
Bem, nem só de acarajé vive a temática a bordada por alguns artistas. Há muitas e muitas maneiras de não se perder o vínculo com a sua identidade afrodescendente e com as questões que permeiam e invadem as nossas biografias e cotidianos sem que seja necessária a fusão "arte/ religiosidade". Eu defendo esta liberdade, este direito do artista ser uma Yêdamaria e pintar natureza morta, sim sinhô! Por que não? Em pleno século XXI.
Pesquisando para o sonho do doutorado e para uma aula que darei em breve para os 52 inscritos no curso promovido pelo Sr. Allan da Rosa, sempre investigando e propondo outras formas de se aprender e compartilhar a cultura brasileira, descentralizada e afrodescendente, tive contato com produções interessantíssimas de artistas negros e mestiços, daqui e de outros lugares, especialmente, os que se inserem no que chamamos de diáspora africana, a produção de descendentes de africanos feita fora da África, considerada a partir deste espalhamento de negros pelo mundo, principalmente, via tráfico negreiro.
Falar de si, desta cor que é amada e detestada, de como é acolhida ou não pelo mundo circundante nos corpos de homens e de mulheres, dos mecanismos de exclusão matematicamente calculados ao longos dos quinhentos anos de contato com o mundo ao qual chamamos ocidental e do qual somos crias, refleti sobre tais questões e outras mais complexas, tem sido o objetivo de muitos artistas. Colocar em dúvida, não aceitar, perturbar, cutucar, repelir, etc, são os verbos que podem ser agregados a estas ações de manifesto estético muito elaborados.
Os nomes seguem as imagens e não há títutlos, ano de produção das obras, técnica etc. É como um breve guia de nomes de pessoas que vem fazendo arte com temáticas relacionadas à história dos negros ou afrodescendentes no mundo, mas sem se ater à religiosidade. Vale muito a pesquisa e conhecimento destas figuras. Vale demais saudar esta liberdade de como duizer que se é negro ou afrodescendente orgulhoso de si e, nem por isso, menos propositivo ou questinador, perturbando consciências e paradigmas sedimentados a metal (espada, faca, bala, o que quiser!) e sangue. 
A religiosidade foi nosso primeiro alicerce, marcador de nossa cor, história e cultura, mas não precisa ser o único e nem precisa estar sempre presente. Temos muito sobre o gritar já que uma imagem vale mais que 1000 palavras.

LIBERDADE PARA A ARTE!

  • Curso "Teias da Expressão, Chamas da Reflexão: Artes Plásticas e Gráficas Africanas e Negro-Brasileiras", promovido pela Edições Totó e pela Prefeitura de São Paulo. As inscrições já estão encerradas, porém vale a pena fica de olho nos próximos cursos:

Artistas:
Pintura de Yêdamaria que também é gravadora. Foi uma a primeira artista negra a receber bolsa de estudo de mestrado no exterior. Depois de anos, resolveu viver em São Paulo, onde pinta naturezas mortas de sua varanda. Já teve uma retrospectiva de sua produção no Museu Afro Brasil que lhe proporcionou um belo catálogo com o conjunto de sua obra.

Sidney Amaral trabalha com pintura, desenho e esculturas em bronze. Este trabalho faz parte de uma recente série de auto-retratos. Expôs recentemente no Ateliê Oço do também artista, curador e amigo Claudinei Roberto.

Este trabalho faz parte da série "Bastidores" de Rosana Paulino que, recentemente, defendeu a sua tese de doutorado. A mulher negra, os padrões de consumo, de beleza, dentre outros, a biologia e o amor são temas da produção da artista. Ela também é desenhista e gravadora.

Tiago Gualberto pintou este retrato de Emanoel. Creio que seja o Sr. Araujo grávido de ideias. Ele também é desenhista e gravador. Na verdade, transita entre muitas linguagens como é comum na produção de arte contemporânea.

Eustáqui Neves que se utiliza de processos químicos para realizar as suas imagens que passam longe dos programas de edição de imagens. Notabilizou-se pela série "Arturos", retratando uma imensa família negra residente no município de Contagem (MG)..

"A Escola do Esquecimento" é um trabalho que faz parte da série "Re-existindo" que elaborei entre 2003 e 2004. Ela nos fala das maneiras encontradas pela população negra para "re-existir" diante de uma realidade na qual as suas referências foram e são apagadas perversamente por instituições como: "A Escola"! esta é minha Tia Leila ainda criança e hoje com 60 anos.

Onesto, amigo de tempos de colégio, guerreiro e arteiro. Com as suas figuras em cores brancas, azuis, laranjas etc, nos fala de um mundo no qual a cor da pele não seja elemento determinante de êxito, acesso e felicidade. Fez a capa da revista "O Menelick 2º ato" deste mês de abril e maio.

Kara Walker em sua série de silhuetas "Slavery, Slavery" nos fala sobre a escrevidão norte-americana e os estereótipos que permanecem e que envolvem a população negra. Esteve presente na 25º Bienal de São Paulo em uma sala mais que especial. Quem viu, viu, quem não viu ...

Kehinde Wiley e suas rerpesentações de homens negros trajados ao estilo Hip Hop, porém sempre em poses que se remetem à tradição acadêmica do gênero retrato: Yo!

Lorna Simpson que trabalha com a memória escrava norte-americana de modo a questionar padrões de beleza, de vestimenta e de postura estabelecidos pela história. Aqui são os cabelos o tema central do trabalho.

William Pope que realiza performances inacreditáveis. Aqui ele é quem? Esperamos que ele pare o trem.

Wangechi Mutu trabalha especialmente com colagens que de alguma forma se relacionam com a ideia de corpo da mulher  negra, sempre deformado, sempre fora do padrão.

Mickalene Thomas realizou vários retratos de mulheres negras imaginárias sempre inspirada na estética dos anos de 1970. Em suas obras a mulher negra é retrata de maneira divina, como uma deusa (não foi proposital).
 Para saber mais:




  • Revista "O Menelick 2º Ato", idealizada pelo estimado amigo e jornalista Nabor Júnior. Neste blog há textos sobre arte feitos pelo amigo, crítico e cientista social Alexandre Araujo Bispo e por mim:
  http://omenelicksegundoato.blogspot.com/

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sim, o povo aprecia arte e textos sobre arte: 2000 acessos - "Re - Existindo"!

As pessoas que trabalham de alguma forma com arte estão fartas de ouvir que "o povo não aprecia arte". Digamos que esta é uma grande quimera!

Trabalhei em muitas exposições é é recorrente a quantidade absurda de pessoas que frequenta algumas mostras. Evidentemente que a cobertura midiática também tem seus efeitos sobre o fluxo de pessoas a estes espaços. Mas, para além da visitação, da observação e apreciação da produção artística in loco, também tenho acompanhado a disposição do "povo" para conhecer e saber mais sobre vários aspectos da produção artística de várias naturezas, passando por diversas linguagens. Aqui neste blog se objetiva falar sobre artes visuais, especificamente, a qual chamávamos de plásticas. Seja a partir de minha própria produção artística em diálogo com a história da arte, seja a partir do que se vê nas ruas estendendo a compreensão de arte para os limites dos corpos, ou ainda, apresentando novos artistas ou discutindo a mediação nos espaços institutcionais, discutir arte não é uma atividade que precise ser engessada e carregada de academicismos que podem, mais do que enriquecer o texto, afastar pessoas que desejam saber mais, dialogar e trocar informações, mas que, por vezes, não possuem conhecimento ou mesmo disposição para a linguagem rebuscada da academia e da erudição.
A discussão sobre arte e estética pode ser interessante, divertida e fazer uso da linguagem coloquial. Uma amiga historiado Dulci Lima já havia falado sobre isto tempos atrás quando se trata de trazer mais informações aos docentes sobre cultura africana e afro-brasileira: simplificar a linguagem não é menosprezar os leitores e suas capacidades e muito menos fazer tabula rasa dos conteúdos tratados, é dar oportunidade para a compreesnão mais acessível, mais palatável. Aprecio muito este ponto de vista.
Após três meses de existência deste blog criado em fevereiro, completamos mais de 2000 acessos de arteiros brasileiros, norte-americanos, franceses, italianos, cabo-verdianos, guatemalenses, japoneses, enfim, os lugares de onde surgem os acessos são infinitos.
Eu espero realmente que as pessoas continuem acessando este canal e contribuindo para o enriquecimento das discussão sobre a arte que, sabemos, perpassa muitas áreas de nossas vidas. Afinal, já discutimos padrão de beleza, a estética das periferias, a atividade da prostituição, a invisibilidade das crianças negras, tudo a partir deste blog. E vem mais por aí, cada coisa a seu tempo.
Espero contribuir para o enriquecimento de espíritos e de mentalidades por meio desta atividade que prazerosamente toma parte do meu cotidiano.

É a partir desta ação que a gente se reinventa e re-existe à nossa maneira, com as nossas re-elaborações. Por isso, para finalizar este pequeno texto, compartilho com vocês um trabalho produzido em 2004, mas que foi extremamente importante para sedimentação de minhas bases identitárias.  

Re-Existindo: existir novamente; resistir. Trabalho realizado a partir de fotografias de meus familiares e de familiares de outras pessoas queridas como da vizinha Tia Gê e do amigo Ronaldo PJ. Possibilidades de repensar o passado, compreender o presente, planejar o futuro. A arte também serve pra nos pensarmos em relação ao mundo, em muitos e muitos casos!

Lavagem cerebral imposta pela Igreja Católica: branco da pureza e imaculado.

Acordar todos os dias com a cor negra em minha pele já é ser Zumbi. Cada núcleo familiar negro tem muito de Zumbi.

Uma das continuidades do colonialismo: "Marias"!

Como as mulheres negras e mestiças são vistas e como isso afeta a nossa feminilidade?

Ser mulher, ser brasileira, ser negra... Aprendendo a carregar pesos.