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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Exposições: Tomada Cultural e Pílula Preta

Desde o final de 2010 que retomei a produção de meus trabalhos de arte, mais especificamente de minhas pinturas. Ah, eu sempre gostei muito de pintura e como diz um amigo meu "sou tradicional". Na verdade, gosto de obras de arte acessíveis, tanto para transporte quanto para aquisição. É bom caber na parede de um apartamento pequeno também, nem só de mansão vive um quadro.
Então, neste ano de 2011 produzi bastante, de acordo com as minhas possibilidades, é claro, e desenvolvi uma série de que gosto muito chamada "Afro Retratos". São autorretratos nos quais me represento como mulheres de outras etnias e culturas.
Terminei as mulheres africanas, de etnias de Angola e isso já faz alguns meses. Agora estou fazendo as asiáticas que estão ficando muito legais.
Já postei alguns trabalhos aqui como comentário a questões relacionadas à história da arte.
Estou postando novamente devido a dois eventos dos quais participarei.
O primeiro ocorrerá nos dias 19 de novembro e 03 e 04 de dezembro e se chama Tomada Cultural. Esta Tomada de novembro será no Espaço Cultural Rio Verde a partir das 15h30, bem gostoso, matinê. A de dezembro será na Casa do Barro, no bairro da Aclimação. Ambas são mostras coletivas que integram várias linguagens das artes.


O segundo é a Pílula Preta organizada pela Instituto Feira Preta que ocorre mensalmente. Em novembro, ocorrerá no dia 20, a partir das 15h, na Casa das Caldeiras. Além de expor os Afro Retratos pretendo mostrar uma série de fotomontagens chamadas Re-Existindo que falam sobre a reconstrução das famílias negras após o processo de escravização das populações africanas transplantadas para o Brasil. É um trabalho de que gosto muito, feito a partir da técnica de decalque e de fotos de pessoas da minha família e de outras famílias negras.


Em ambos os espaços meus trabalhos estarão à venda porque artista vive de seu trabalho, não é verdade? Não é passatempo, é querer fazer isso. Decidi que entrarei no jogo, na luta dos artistas versus mercado, que ao mesmo tempo que ajuda, atrapalhar e deturpa demais a produção de arte contemporânea tanto no que diz respeito aos temas quanto aos valores praticados.
E por falar em valores, as obras custam a partir de R$ 300,00, para todos os bolsos.


Trabalhos da série Re-Existindo feitos em decalque (fotomontagem).






Trabalhos da série Afro Retratos e detalhes dos mesmos.











Quem desejar conhecer mais meus trabalho pode entrar no meu Flickr:


Espero por todos nestes espaços!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mulher, Violência, Ação, Arte

Daniela Embom, Jenyffer Nascimento e Fernanda Coimbra.

Elizandra Souza, Daiane e Cristina Roseno.





Débora Marçal.

Alânia Cerqueira.

Michelle Correa.

Juliana Barros.

Helena.



Manoel Trindade e Peu Pereira.

No feriado de 02 de novembro, mulheres (e alguns homens) se reuniram para falar de um assunto que impregna boa parte das relações de afeto e de gênero no mundo: a violência contra a mulher.
Michelle e Peo nos receberam em sua casa, no bairro do Capão Redondo, e, acompanhados de lasanha, cerveja, sorvete de doce de leite e gritaria da criançada, discutimos situações que afetaram algumas colegas recentemente. Num primeiro momento, relatando tais situações, elas poderiam até parecer "bobagens", entratanto, elas foram praticadas por um mesmo homem, em dias distintos, e em um espaço no qual pressupomos que impera a "igualdade" e o respeito entre os sexos, uma vez que, num sarau o que se foca são as criações culturais e artísticas nas suas mais diversas expressões.
Nesta análise das agressões sofridas pelas colegas é muito intrigante notar que o homem que teve tal atitude é um homem negro, ao que parece, criado somente pela mãe. Fico me perguntando como tantos homens que tiveram como bases de suas educações as próprias mulheres se voltam contra as mesmas na vida adulta de maneira a se impor via força física, a não respeitar as companheiras, a repetir padrões de comportamento que se assemelham aos de seus pais, os primeiros homens em suas vidas.
Uma das colegas falou que o homem que abandona e que não cuida de sua prole sofre uma espécie de aborto e que ele também sofre. Entretanto, não é isso que tenho observado. Vejo por aí, pelos bares, festas e outros lugares que frequento, homens que possuem filhos e que não pagam pensão; não respeitam suas mulheres; que vivem a fletar com muitas como num jogo de sedução infinito e inseguro; que sorriem, dançam e se divertem como se não houvesse nenhuma outra responsabilidade em suas vidas a não ser o deleite de viver. Não vejo homens "sofrendo", vejo sim as mulheres (algumas amigas) sofrendo para comprar as roupinhas de suas crianças, pagar aluguel, tentar estudar, tentar ser mãe dignamente, dentre outros esforços. Isso sim eu vejo. Eu vejo as mulheres negras da minha família sendo abandonadas e enviuvando desde tempos remotos; vejo homens que, com exceção dos irmãos da minha mãe, não ajudam em casa o quanto deveriam; não levam suas esposas para passear nem no parque; que se acomodam e que reclamam da vida como se suas mulheres fossem as culpadas de suas escolhas, como se seus filhos fossem um grande peso e não algo do que se orgulhar, se cuidar. São os pais que, apesar de cada um termos nossas pernonalidades, nos "moldam" para o mundo.
Penso muito sobre como quebrar este círculo vicioso e destruidor, destruidor da confiança e do amor. Por que temos tanta dificuldade em aprender a sermos felizes? O que falta? O que queremos?
Era muita gente querendo falar, algumas das mulheres com experiências chocantes para contar e compartilhar. Nem imaginamos o que cada um de nós passa entre quatro paredes, não é verdade? O quanto podemos ser agredidos dentro ou fora de casa, pelos conhecidos ou não, a qualquer momento. Com desde um tapa na bunda vindo de um desconhecido até um soco dado na face pelo próprio pai. Isso tudo me choca, me enoja, me entristece.
Há tempos tenho pensado sobre esta situação. Quantas mulheres vem sendo agredidas a cada minuto. Quantas notícias de homicídios assistimos na televisão. Quantos homens que não aceitam, não se conformam com nossas posturas e na falta dos instrumentos necessários ao diálogo, ao acordo verbal, usam a força das palavras, do corpo ou do dinheiro, para mudar situações. Se o mundo fosse civilizado a este ponto... O tal acordo de cavalheiros é algo impossível, até pelo fato de não termos mais tantos cavalheiros assim. Resta esperar que as leis se cumpram (pelo amor de Deus), que estes homens que agridem sejam denunciados, presos, que não fiquem impunes e com a certeza de que o que fizeram "não foi tão grave assim". Não existe mais "defesa da honra", e sim "defesa da vida"!
Decidimos que realizaremos uma ação no Sarau do Binho em 14 de novembro. Não adiantarei do que se trata, mas é justamente para chocar e refletir sobre isso.
Acho que qualquer retorno, neste caso, deve ocorrer tendo a arte como veículo, já que os locais onde os acontecimentos ocorreram tem relação com esta produção.
Pesquisei algumas imagens de obras de arte que tratam deste problema social que existe desde que existem mulheres e homens. Algumas destas obras foram citadas por mim neste encontro, considero estes trabalhos muito, muito significativos para reflexão sobre esta problemática.

Nazareth Pacheco (1961) utiliza instrumentos cirúrgicos, materiais brilhantes e cortantes para trazer a ideia de uma beleza visual que causa estranhamento ao ser observada de perto. A beleza que causa sofrimento, tanto para quem deseja realizar intervenções cirúrgicas para se aproximar de um determinado padrão como para quem ao observar que seu corpo não corresponderá nunca ao modelo ideal se frusta e não se aceita.


Rosana Paulino (1967) nesta série de bastidores bordados usa imagens de mulheres de sua família cujas bocas, olhos, gargantas e testas aparecem costurados, o que pode nos indicar que estas mulheres estão silenciadas e cegadas, ao modo das mulheres agredidas de nossa sociedade, porém, é apenas uma leitura dentre muitas.

Criado em 1999, o Guerrilla Girls é um coletivo de ações de artes visuais que tem como bandeira o movimento feminista contemporâneo, e atua, mais precisamente, na área das artes visuais cutucando sobre a ausência da figura da mulher como produtora de obras de arte que sejam exibidas nas grandes instituições culturais. Elas nunca mostram seus rostos, usam máscaras de gorilas nas aparições públicas e adotaram nomes de artistas plásticas falecidas. Olha o site, vale muito a pena: www.guerillagirls.com



Beth Moysés ( 1960), sem dúvida nenhuma, é uma das artistas brasileiras que mais respeito. Delicadamente e a partir da mobilização de muitas mulheres (que se aderiram foi porque refletiram sobre as questões trazidas pela artista), ela conseguiu transpor para a arte a angústia, medo, ansiedade e outros sentimentos e sensações ligados ao cotidiano de mulheres que são agredidas por seus parceiros. Este trabalho ("Memória do Afeto") fala-nos umpouco sobre as linhas da vida e do destino a partir do matrimônio.


Rosana Palazyan (1963) possui trabalhos lindos e sensíveis que trazem a questão da violência estendida às crianças e aos jovens, além de tratar da mulher no casamento. Infelizmente a internet não apresenta muitas imagens de qualidade de suas produções, mas ela possui trabalhos feitos a partir do uso de tecidos, miçangas, bordados, muita delizadeza para tratar de um assunto tão brutal. Os contos de fadas misturados a fatos verídicos também aparecem como tema de suas obras.

"Oh, menininho forte da mamãe!". Não, as mamães não devem incentivar isso, os mocinhos bravinhos e valentes. Barbara Kruger (1945) usa colagens em preto, vermelho e branco para realizar seus trabalhos que trazem perguntas e compartilham reflexões, as palavras sempre estão presentes porque, as vezes, uma imagem não diz mais que mil palavras.



Em breve, imagens do ocorrido no Sarau do Binho. Para adiantar um pouco, segue o link do blog:
saraudobinho.blogspot.com

Para ver mais trabalhos de Beth Moysés:

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Afrobrasilidades: SESC Belenzinho e a produção de matriz africana na arte

Fui convidada a realizar um encontro com professores e três oficinas de arte no SESC Belenzinho, este empreebdimento faraônico situado na Zona Leste.
Para os professores preparei uma palestra de três horas sob o títuto A arte brasileira tem ziriguidum. Trablhando sobre esta onomatopeia que nos remete ao ritmo e musicalidade do samba, foram apresentados artistas brasileiros que, em suas produções, trazem aspectos que se relacionam conceitual ou esteticamente à matriz africana.
Como os encontros com professores, de modo geral, ocorrem aos sábados, infelizmente não tivemos o público esperado de 25 pessoas, tínhamos cinco pessoas na plateia, neste último domingo, 06 de novembro. Entendo perfeitamente, afinal de contas, que piscina enorme é aquela no SESC? Não consigo competir com issom, rs. Além disso, domingo é dia de descanso, para a maioria dos docentes, entendo, entendo e respeito.
Nas demais datas, as das oficinas, creio não haver desculpas. Há, inclusive, muitos e muitos motivos para que tenham vagas esgotadas nestes encontros teórico-práticos que ocorrerão em 18 e 25 de novembro e 03 de dezembro. Os professores, de modo geral, sempre trazem dúvidas sobre como incluir os artistas negros e suas temáticas nos planejamentos das aulas de artes, que atividades podem ser desenvolvidas a partir destas produções. Desta forma, pensei exatamente em, com materiais acessíveis, tratar de produções de artistas mais propagados e de apresentar outros nobres pouco citados. Assim, abordarei Rubem Valentim (1922 - 1991), Agnaldo Manoel dos Santos (1926 - 1962) e Rosana Paulino (1967), que, diga-se de passagem, é uma das pessoas convidadas a lecionar um curso nos dias 16, 23 e 30 de novembro (eu vou!). Serão 30 minutos de uma breve explanação sobre estes artistas acompanhados de 1h15 de atividade e de uma apreciação coletiva.


Obra de Rubem Valentim pensada a partir da simbologia ritualística iorubana.

Trabalho da série "Amor: modos e usos" de Rosana Paulino.

Obra de Agnaldo Manoel dos Santos.
Cada vez mais vejo que há instituições preocupadas em contemplar o mês da consciência negra com atividades que não são apenas "tapa buraco" ou o cumprimento de uma agenda burocrática. Antes se via uma apresentação qualquer, de qualquer artista negro, sem a ampliação de diálogos, de conhecimentos, sem criticidade estética e conceitual envolvidas, ou seja, não havia uma elaboração, algo de fato pensado para agregar e somar saberes e, por que não, lazer de qualidade? As instituições estão, de fato, investindo nisso. Nós, negros, brancos, mestiços e quem mais tiver interesse, merecemos este respeito, este planejamento, este cuidado.
Fico muito satisfeita com esta alteração de panorama que realmente acena para uma equidade de importâncias dos povos constituintes desta nação brasileira e que, futuramente, desejo que extrapole o mês de novembro. Eu sou negra todos os dias, todas as horas, todos os minutos, eu quero, portanto, que as questões da minha identidade, inerentes ao meu ser e aos meus iguais estejam em pé de igualdade valorizadas pelas instituições que frequento e que me formaram sim, como cidadã, como educadora, pesquisadora e artista.
É uma questão de tempo.
Falta fazer com este dia, o 20 de novembro, se transforme mesmo em um feriado nacional, tal qual é o de Tiradentes que, muitos sabemos que não era figura central no movimento da Inconfidência Mineira.
É uma questão de tempo...

Educadores engajados, comprometidos e curiosos, espero vocês no SESC Belenzinho.

Agradeço a programadora e artista Vanessa Lambert pela oportunidade.
Abaixo o link da instituição com a programação.


Africanofagias Paulistanas, 05 de novembro de 2011

O sábado, 05 de novembro, foi um dia muito especial. Além de reencontrar e reunir amigos que admiro pelos sentimentos mútuos e por suas pesquisas sobre cultura, história e arte considerando a parcela negro-africana da população, tive o imenso prazer de ver um projeto antigo realizado com o aval de uma das instituições de promoção de arte e cultura mais respeitadas do país, quicá, da América Latina.

O público da mesa redonda composta por Dra. Regiane Augusto Mattos, Prof. Dra. Vanicleia Silva Santos e pelo doutorando Milton Silva Santos, mediada pelo curador e crítico de arte Alexandre Araujo Bispo, cujo tema foi Africanos em terras paulistanas, foi chegando aos poucos. Começamos com oito pessoas e terminamos com umas 30. É difícil acordar cedo no sábado, porém o esforço é absolutamente necessário e gratificante!

A discussão foi muito rica e espero que no dia 12 de novembro, tenhamos mais adesões. Afinal de contas não é a todo momento que existe a possibilidade de realização de uma importante ação como esta.

As visitas temáticas ainda ficaram a desejar devido à ausência do público esperado. Entretanto, não tenho dúvidas de que Alana, Laise, Gabriel e Marcos (MAS), André e Wilmihara (MLP) e Victor (Pinacoteca) terão a chance demonstrar o quanto se prepararam para estas mediações tão especiais.

Na parte da tarde o Curimba em companhia da majestosa Bernadete foram muito felizes nas escolhas do "play list" e conseguiram entusiasmar o público que estava no octógono da Pinacoteca apreciando obras de arte e música, samba de raiz, de lavadeiras, sim, sinhô!

Agradeço à oportunidade dada pelos fabulosos diretores da instituição (Marcelo M. Araujo e Ivo Mesquita) e ação profissional (e companheira) de Paola Cavallari (produção), Alexandre Araujo Bispo (coordenação) e Solange Nascimento Ardila (educação).

Sábado tem mais, segue o link da programação que está no site da Pinacoteca do Estado e imagens deste encontro tão feliz!


Abertura da primeira mesa redonda "Africanos em terras paulistanas".

Apresentação da Dra. Regiane Augusto Mattos sobre as populações africanas que foram trazidas diretamente para São Paulo.

Apresentação da Prof. Dra. Vanicleia Silva Santos (UFMG) sobre amuletos e conhecimentos relacionado aos mandingas.

Arguição do doutorando Milton da Silva Santos sobre o fenômeno dos babalorixás em São Paulo.

André, educador do MLP, levando suas dúvidas à mesa redonda.
 
As apresentações geraram muitas perguntas.

Todas muito pertinentes.

Público atento.

Respostas precisas.

O público na apresentação do Curimba e de D. Bernadete.


D. Bernadete, puxadora da Escola de Samba Peruche.



As flores do Curimba.