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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mulher, Violência, Ação, Arte

Daniela Embom, Jenyffer Nascimento e Fernanda Coimbra.

Elizandra Souza, Daiane e Cristina Roseno.





Débora Marçal.

Alânia Cerqueira.

Michelle Correa.

Juliana Barros.

Helena.



Manoel Trindade e Peu Pereira.

No feriado de 02 de novembro, mulheres (e alguns homens) se reuniram para falar de um assunto que impregna boa parte das relações de afeto e de gênero no mundo: a violência contra a mulher.
Michelle e Peo nos receberam em sua casa, no bairro do Capão Redondo, e, acompanhados de lasanha, cerveja, sorvete de doce de leite e gritaria da criançada, discutimos situações que afetaram algumas colegas recentemente. Num primeiro momento, relatando tais situações, elas poderiam até parecer "bobagens", entratanto, elas foram praticadas por um mesmo homem, em dias distintos, e em um espaço no qual pressupomos que impera a "igualdade" e o respeito entre os sexos, uma vez que, num sarau o que se foca são as criações culturais e artísticas nas suas mais diversas expressões.
Nesta análise das agressões sofridas pelas colegas é muito intrigante notar que o homem que teve tal atitude é um homem negro, ao que parece, criado somente pela mãe. Fico me perguntando como tantos homens que tiveram como bases de suas educações as próprias mulheres se voltam contra as mesmas na vida adulta de maneira a se impor via força física, a não respeitar as companheiras, a repetir padrões de comportamento que se assemelham aos de seus pais, os primeiros homens em suas vidas.
Uma das colegas falou que o homem que abandona e que não cuida de sua prole sofre uma espécie de aborto e que ele também sofre. Entretanto, não é isso que tenho observado. Vejo por aí, pelos bares, festas e outros lugares que frequento, homens que possuem filhos e que não pagam pensão; não respeitam suas mulheres; que vivem a fletar com muitas como num jogo de sedução infinito e inseguro; que sorriem, dançam e se divertem como se não houvesse nenhuma outra responsabilidade em suas vidas a não ser o deleite de viver. Não vejo homens "sofrendo", vejo sim as mulheres (algumas amigas) sofrendo para comprar as roupinhas de suas crianças, pagar aluguel, tentar estudar, tentar ser mãe dignamente, dentre outros esforços. Isso sim eu vejo. Eu vejo as mulheres negras da minha família sendo abandonadas e enviuvando desde tempos remotos; vejo homens que, com exceção dos irmãos da minha mãe, não ajudam em casa o quanto deveriam; não levam suas esposas para passear nem no parque; que se acomodam e que reclamam da vida como se suas mulheres fossem as culpadas de suas escolhas, como se seus filhos fossem um grande peso e não algo do que se orgulhar, se cuidar. São os pais que, apesar de cada um termos nossas pernonalidades, nos "moldam" para o mundo.
Penso muito sobre como quebrar este círculo vicioso e destruidor, destruidor da confiança e do amor. Por que temos tanta dificuldade em aprender a sermos felizes? O que falta? O que queremos?
Era muita gente querendo falar, algumas das mulheres com experiências chocantes para contar e compartilhar. Nem imaginamos o que cada um de nós passa entre quatro paredes, não é verdade? O quanto podemos ser agredidos dentro ou fora de casa, pelos conhecidos ou não, a qualquer momento. Com desde um tapa na bunda vindo de um desconhecido até um soco dado na face pelo próprio pai. Isso tudo me choca, me enoja, me entristece.
Há tempos tenho pensado sobre esta situação. Quantas mulheres vem sendo agredidas a cada minuto. Quantas notícias de homicídios assistimos na televisão. Quantos homens que não aceitam, não se conformam com nossas posturas e na falta dos instrumentos necessários ao diálogo, ao acordo verbal, usam a força das palavras, do corpo ou do dinheiro, para mudar situações. Se o mundo fosse civilizado a este ponto... O tal acordo de cavalheiros é algo impossível, até pelo fato de não termos mais tantos cavalheiros assim. Resta esperar que as leis se cumpram (pelo amor de Deus), que estes homens que agridem sejam denunciados, presos, que não fiquem impunes e com a certeza de que o que fizeram "não foi tão grave assim". Não existe mais "defesa da honra", e sim "defesa da vida"!
Decidimos que realizaremos uma ação no Sarau do Binho em 14 de novembro. Não adiantarei do que se trata, mas é justamente para chocar e refletir sobre isso.
Acho que qualquer retorno, neste caso, deve ocorrer tendo a arte como veículo, já que os locais onde os acontecimentos ocorreram tem relação com esta produção.
Pesquisei algumas imagens de obras de arte que tratam deste problema social que existe desde que existem mulheres e homens. Algumas destas obras foram citadas por mim neste encontro, considero estes trabalhos muito, muito significativos para reflexão sobre esta problemática.

Nazareth Pacheco (1961) utiliza instrumentos cirúrgicos, materiais brilhantes e cortantes para trazer a ideia de uma beleza visual que causa estranhamento ao ser observada de perto. A beleza que causa sofrimento, tanto para quem deseja realizar intervenções cirúrgicas para se aproximar de um determinado padrão como para quem ao observar que seu corpo não corresponderá nunca ao modelo ideal se frusta e não se aceita.


Rosana Paulino (1967) nesta série de bastidores bordados usa imagens de mulheres de sua família cujas bocas, olhos, gargantas e testas aparecem costurados, o que pode nos indicar que estas mulheres estão silenciadas e cegadas, ao modo das mulheres agredidas de nossa sociedade, porém, é apenas uma leitura dentre muitas.

Criado em 1999, o Guerrilla Girls é um coletivo de ações de artes visuais que tem como bandeira o movimento feminista contemporâneo, e atua, mais precisamente, na área das artes visuais cutucando sobre a ausência da figura da mulher como produtora de obras de arte que sejam exibidas nas grandes instituições culturais. Elas nunca mostram seus rostos, usam máscaras de gorilas nas aparições públicas e adotaram nomes de artistas plásticas falecidas. Olha o site, vale muito a pena: www.guerillagirls.com



Beth Moysés ( 1960), sem dúvida nenhuma, é uma das artistas brasileiras que mais respeito. Delicadamente e a partir da mobilização de muitas mulheres (que se aderiram foi porque refletiram sobre as questões trazidas pela artista), ela conseguiu transpor para a arte a angústia, medo, ansiedade e outros sentimentos e sensações ligados ao cotidiano de mulheres que são agredidas por seus parceiros. Este trabalho ("Memória do Afeto") fala-nos umpouco sobre as linhas da vida e do destino a partir do matrimônio.


Rosana Palazyan (1963) possui trabalhos lindos e sensíveis que trazem a questão da violência estendida às crianças e aos jovens, além de tratar da mulher no casamento. Infelizmente a internet não apresenta muitas imagens de qualidade de suas produções, mas ela possui trabalhos feitos a partir do uso de tecidos, miçangas, bordados, muita delizadeza para tratar de um assunto tão brutal. Os contos de fadas misturados a fatos verídicos também aparecem como tema de suas obras.

"Oh, menininho forte da mamãe!". Não, as mamães não devem incentivar isso, os mocinhos bravinhos e valentes. Barbara Kruger (1945) usa colagens em preto, vermelho e branco para realizar seus trabalhos que trazem perguntas e compartilham reflexões, as palavras sempre estão presentes porque, as vezes, uma imagem não diz mais que mil palavras.



Em breve, imagens do ocorrido no Sarau do Binho. Para adiantar um pouco, segue o link do blog:
saraudobinho.blogspot.com

Para ver mais trabalhos de Beth Moysés:

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