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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Dois corações num só corpo: grávida de ideias


Queridas e queridos que acompanham o blog, eu me desculpo pela ausência de praticamente três meses. Aliás, quem acompanha realmente, por favor, manifeste-se no final da leitura desse post porque aí eu fico sabendo quem são vocês, o que acham do que escrevo e que não estou apenas colocando as ideias no mundo, mas sim pra todo mundo que quiser ler.
Desapareci por muitos motivos: palestras e projetos a serem elaborados e entregues, ainda que nem todos tenham se efetivado; uma feliz participação no IV CSO da Universidade de Lisboa; uma outra feliz participação na I Bienal do Mediterrâneo, também em Lisboa; busca por uma nova casa; novos trabalhos; e, o mais importante, uma preparação mental, psicológica e de logistíca para a chegada de um bebê, meu primeiro bebê.

Sinceramente, a nossa sociedade romantiza demais a gestação e ela não é das experiências mais agradáveis para o corpo de uma mulher, apesar desse ser crescendo, começando a se mover e se comunicar contigo, ser algo maravilhoso, mágico, pura sabedoria dos deuses criadores. Tive dias de tristeza devido às mudanças bruscas no meu corpo, de incertezas, de ansiedade, e de muita, muita esperança e reencontro. Esperança no mundo mesmo, nessa sociedade, pois tenho muitas amigas queridas e fazedoras de arte, de educação e de cultura que se encontram  gestantes ou deram a luz recentemente. Assim, acredito que elas criarão pessoas melhores: mais sensíveis, mais altruístas, mais conscientes, assim como elas são. Reencontro porque depois de idas e vindas, sorrisos e lágrimas, me reencontrei com o pai desse bebê, e acredito que foi um reencontro de coração e de mentes, de sabermos que é agora e que estamos juntos. Esse é o triângulo amoroso perfeito! 
Em breve o bebê estará aqui no mundão, e estou me preparando aos poucos apesar de faltar pouco tempo. Nada de pressa, nada de consumismo exacerbado por coisinhas de bebês que ele perderá logo e que não são tão úteis. 
Para além dessa transformação na minha vida, apesar do pouco tempo que tenho tido e que sei que vai se restringir mais ainda, estou produzindo. E a experiência única da gestação tem influenciado meus trabalhos. Resolvi postar alguns aqui para que vocês os conheçam. Estou grávida duas vezes: da criança e das ideias. Com muita, muita vontade de produzir, mas sem tempo no momento. Nem no corpo e nem na mente voltarei a ser o que fui antes, já mudei. Já tenho novas marcas no corpo: a linha negra, novas estrias, marcas de espinhas dentre outras novidades. Já não idealizo a gestação  nunca idealizei, admiro cada vez mais a minha mãe que teve cinco filhos e nos criou com amor, dedicação e determinação, respeito cada mulher mãe, especialmente as que tiveram seus filhos de parto natural ou normal, sem medo de ser mulher, de cumprir um papel que a natureza lhes deu com dores e prazeres, amo ver o bebê vivendo dentro de mim, se movimentando, soluçando, se agitando quando como algo que ele deve achar gostoso. Não era para ele chegar antes, era para ele chegar agora porque é agora que estou pronta, com todos os meus medos, agora que tenho certeza.
No ano passado ilustrei o livro "Águas da cabaça", da querida Elizandra Souza, e o primeiro desenho que fiz foi uma gestante grávida de poesia. Era um sinal... Me sinto grávida de poesia, de uma delicada, pequena e que sua significação se agiganta a cada dia. 
Fiz autorretratos em Lisboa onde estou grávida e em um deles inseri, com a ajuda de um expert em Photoshop, uma imagem desses bonecos de bebê que as meninas ganham para treinar o serem mães. Bonecos sempre brancos, aloirados de olhos claros. Ainda que haja hoje em dia uma outra oferta de bonecas, são estes os que predominam. Fui a lojas de brinquedos fazer uma pesquisa, ainda são poucos os brinquedos para meninas negras. Fiquei pensando nessa gravidez, mulheres grávidas dessas bonecas padronizadas.
Nomeei este trabalho em fotografia de "Meu bebê" e mandarei imprimir em metacrilato. É caro, por isso, não o finalizei ainda.

"Meu bebê", 2013, fotografia manipulada impressa em metacrilato, 42 x 29,78 cm.
Fiz aquarelas representando bebês das minhas amigas e familiares, uma coisa mais infantil, são presentes para decorar os quartinhos, cujo conceito foi a delicadeza. Estou numa fase das aquarelas, desejando explorar as cores leves, as transparências,  as sobreposições e estou gostando muito. Não vejo a hora de reorganizar meu cantinho, meu ateliê e pintar enquanto meu bebê descansa, dorme. Aceito encomendas para está série,  cada aquarela custa R$ 50,00.

 "Chikito", 2013,aquarela, dimensões A5.

 "Cayden", 2013,aquarela, dimensões A5.
Produzi duas grandes aquarelas de uma série em andamento chamada "Afro Nouveau", faz tempo que ando pesquisando o austríaco Gustave Klimt (1832 - 1892), que quem acompanha o blog sabe que é uma das minhas referências estéticas, busquei também referências nas fotografias fantásticas da bela e polêmica Leni Riefestahl (1902 - 2003), a cineasta do período nazista que, mais para fim de sua vida, resolveu acompanhar e registrar o cotidiano de povos africanos cujas imagens estão no lindo livro "Africa", da editora Taschen. Acho que nunca gastei e gostei tanto de um livro. A série continua mesclando aquarela e monotipia, quero expor e quero vender.

 "Afro Nouveau II", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 72 x 50 cm.
"Afro Nouveau II", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 72 x 50 cm - detalhe.
 "Afro Nouveau I", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 72 x 50 cm.
 "Afro Nouveau I", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 72 x 50 cm - detalhe.
Por fim, pintei as "Mães Orixás", de uma série que tenho chamado de a "Mães Primordiais",  talvez esse nome se altere. São todas entidades, deusas, seres mágicos e fantásticos. Elas estão todas grávidas e há duas à venda na Livraria Cultura, loja de artes do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista 
(11 3170-4033), elas são a "Mãe Oxum", toda dourada, revestida de ouro e "Mãe Iemanjá", 
azulada e esverdeada como são muitos mares. Ou seja,as duas orixás das águas. 
A "Mãe Oxum" me lembra muito uma Maria Antonietta por conta desse penteado cheio 
de cachos e altivo.

 "Mãe Iemanjá", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 51 x 41 cm. 
 "Mãe Iemanjá", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 51 x 41 cm - detalhe.
 "Mãe Oxum", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 51 x 41 cm.
 "Mãe Oxum", 2013,aquarela e acrílica sobre papel, 51 x 41 cm - detalhe. 
Enfim, eu estou grávida de ideias que quero colocar no mundo o quanto antes, mente a mil.
Vou tentar escrever ainda este mês, quero falar do Estéticas das Periferias aqui de São Paulo
e da falta de apoio financeiro da Secretaria Municipal de Cultura. 
Quero falar de vários assuntos.
Mas, antes de tudo, quero ver o rostinho do meu bebê, não vejo a hora.



quarta-feira, 13 de março de 2013

Eu quero ser...

Eu demorei para escrever este texto... O Carnaval acabou. Carnaval triste aqui em São Paulo. Sob chuva e alguns dias até friozinhos. Atrapalhando mesmo os paulistanos. E nem adianta dizer que o paulistano sai pras ruas mesmo com chuvas. Desculpem, tinham menos pessoas nas ruas. Entretanto, eu vi mais gente fantasiada. Ando pensando muito sobre a fantasia nas nossas vidas, da fantasia dos contos de fadas às histórias de horror. Da fantasia como fuga da realidade. É incrível quantos filmes e seriados tem retratado o absurdo, o impossível. Walter Benjamin dizia no seu célebre texto "A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica" já dizia, grosso modo,  que o cinema não estava sendo empregado dentro de suas potencialidades, que ele seria justamente para realizar o irreal, isto é, da fantasia ao absurdo. O texto foi iniciado em 1936 e publicado em 1955. Ele já pensava nessa possibilidade do homem sonhar com o que vemos hoje, um mundo de efeitos especiais que nos levam para lugares irreais, nos fazem mudar de plano, ou melhor, sair do plano.

Para ler o texto inteiro:

Eu sempre adorei me fantasiar. Quando pequena minha mãe destruiu o vestido de noiva para confeccionar fantasias para mim. Na verdade, pegou uma fantasia do meu pai, com a qual ele havia desfilado na VAI VAI, e o vestido dela e transformou em uma roupinha de baianinha para minha irmã e em uma de bailarina para mim. Nossa! Pena que não tenho nenhuma foto. Ela foi muito desapegada e muito amorosa. Cada coisa que mãe faz. Também fui garçonete, a havaiana que é uma fantasia bem tradicional, anjo, diaba, sereia, e no último Carnaval fui Walking Dread. Não, não escrevi errado. Eu, meus irmãos e meu mino, fomos de Walking Dreads. A ideia era morder outras pessoas, ms não funcionou. A fantasia sujava todo o rosto de branco.

Bom. este é um texto curto. Peço desculpas a quem acompanha o blog porque além do trabalho, agora tenho uma barriga para cuidar e há dias nos quais eu não consigo sequer ler, de tanto sono.

O Carnaval que eu tanto gosto, mas que tive que curtir com moderação é isso, uma brecha nas nossas vidas para sermos quem quisermos, para fazermos as coisas mais absurdas, para extravasar aquela vontade que deu de brigar com o motorista do carro ao lado, de xingar a atendente esnobe de alguma loja. Enfim, é uma liberação, não diga da carne porque no Brasil muito se fala e pouco se faz, inclusive falando de sexo. Mas, da liberação dos desejos bobos de sermos personagens de um mundo melhor e inverossímil  sem grosserias, preocupações...

Tirei as fotos no "Vai quem quer" da Vila Madalena e no "Agora Vai" da Barra Funda.
Aqui seguem os melhores fantasiados, na minha opinião e alcance de visão. Olha, eu exclui as Fridas, não sei o que deu no povo que só juntam as sobrancelhas e acham que viraram a diva da pintura mexicana...

De qualquer forma, seja quem você quiser:

Todo homem, no fundo da alma, tem vontade de saber como é ser uma mulher... Gostosa, claro.
Olha que fino este marinheiro!
Super Mário!!
Pervas!
As meninas negras são mais comportadas!
Bobo da corte havaiano?
Adivinhe! 1, 2, 3 Mad Max.
Pocahontas, impossível não lembrar do trocadilho Pouca Roupas.
Elis Sibere Trindade foi de bonita mesmo.
Nanaira.
oeste está colorido, mas não decifrei e nem ele sabia me dizer direito.
Acordei agora e vim assim, linda!
Dançarinas de cabarés franceses. A de verde estava mucho sexy!
Pra quem gosta de ovo frito.
"Mamãe eu quero mamar". As crianças estavam chocadas com este homem vestindo fraldas. Muito bom!
Superman Latino!
Farid, Haji, Abdu, enfim, o dono do petróleo. Sheik até o chão!
Estes estavam um arraso e são uma turma mesmo: Kiko...
... Chiquinha ...
Chapolin Colorado!!
Amy, querida, bebendo todas!
Não, não é uma chupeta, é um preservativo. Isso sim é criatividade.
Mulheres ricas!
Juno! A mais criativa!
A Daniela Vidal foi de linda, de ninfa.
Ai, gata... Modos!
Melindrosa, estava muy elegante!
Bat-minho! Lindinho!
Empreguetes!
Walking Dread...

domingo, 13 de janeiro de 2013

"Também quero ser sexy!"

É quase um grito de desabafo: "Também quero ser sexy!". Venho pensando na performance e no travestir como forma de expressão artística, de comunicação, de criação e de indignação.
Para alguns o projeto que comecei a desenvolver em 2012 a partir de autorretratos e que passará por retratos de anônimas e performances, pode ter algo de esquizofrênico, de um sentimento de perseguição: "ah, são preferências...". Não, não são preferências por este ou aquele fenótipo, são construções sociais pautadas em discriminações e preconceitos seculares que se impactam indelevelmente na personalidade e na autoestima e autoimagem das mulheres que não se encaixam no padrão de beleza propagado como melhor, normal, bonito.
Quando criança, me recordo de uma conversa com minha irmã, nem sei se ela se recorda, lembro que eu disse que na "outra vida, ela seria loira e eu ruiva", acreditávamos na mágica de retornarmos com o direito de sermos meninas brancas com sardas e cabelos compridos, a maneira das meninas que observávamos nas propagandas. Me lembro também de que as únicas referências de negras bonitas que tínhamos era uma modelo que havia saído em uma das excelentes propagandas da Benetton, grife italiana que desapareceu, não sei os motivos, e a capa do primeiro álbum da falecida Whitney Houston, onde ela aparecia vestida como uma pseudo-grega e com cabelos presos para trás.
Cresci numa família negra cheia de pessoas lindas que alisavam seus cabelos ou utilizavam produtos químicos para domá-los. Na qual nos identificávamos como negros, ouvia meus pais e tios conversando sobre racismo e escravidão mesmo dispondo de escassas informações históricas sobre os temas, ouvindo sambas (somos da Zona Norte de São Paulo, reduto tradicional das famílias negras paulistanas), nos reunindo aos finis de semana para os almoços com macarronada e frango assado (italianados? aculturados? transculturador?), tendo como leme das famílias as mulheres reproduzindo instintivamente e por circusntâncias históricas os matriarcados dos povos tradicionais africanos. Entretanto, entre os elogios tímidos de familiares, não existia o comentário de fortalecimento de nossa beleza, ainda que fóssemos muito bonitos, ou bonitas, nos casos meu e de minha irmã. Tinha o comentário de elogia a pele não tão negra e aos "cabelos bons" como qualidades mais bem quistas.
No ambiente escolar, nem se fala. Tinha um menininho negro chamado Evandro, que na 3º série era meu amor platônico, mas ele também me amava porque trocávamos bilhetes via a minha amiga Elis Angela. Teve o Silvio, por quem sou eternamente grata, pois foi o menininho branco que não se negou a ser meu par na festa junina, na mesma série. Me lembro de ter me apaixonado por muito mocinhos negros e todos me rejeitaram e namoravam as meninas brancas e tentavam namorar as loiras, as escassas loiras naturais das periferias, mas que materializavam o sonho branco das propagandas, da televisão. Isso será que era "preferência", assim, espontânea, ou podemos chamar de um gosto formatado por uma indústria cultural de massa? Vamos pensar. 
No Ensino Médio não foi diferente e tive um primeiro namorado negro, muito bacana, que é uma excelente pessoa com a qual aprendi muito. Hoje vejo que tive muita sorte diante de outras trajetórias de mulheres negras, porque apesar de toda a rejeição eu pude me sentir desejada num período de construção de autoimagem e autoestima crucial que é adolescência, isso serviu para atenuar o sofrimento da infancia. Sim, as crianças sofrem, a infância não é somente ternura e pureza, ela pode ser muito perversa, especialmente, se se é uma menina negra, massacrada diariamente por meninos brancos e negros e por meninas brancas. "Bulling" é um nome em inglês para algo que sempre existiu nas escolas e para os quais as professoras, brancas e negras, sempre disseram que eram "coisa de crianças". Parece que elas próprias apagam suas angústias da infância, seus medos e desejos de que algum adulto as protegessem. 
No final, vejo que os homens negros tambem são vítimas porque desejam o que a televisao lhes disse a vida inteira que é bonito e sensual, com uma grande ajuda das revistas masculinas, a mulher branca, preferencialmente, loira. Poucos são os homens negros que desenvolveram senso crítico para identificar que eles também são vítimas dessa sociedade perversa e que aprendem a se valorizar e a ver as mulheres, incluindo as suas pares, também como belas potenciais, diversas de um modelo unilateral e massificado. Na vida adulta, foi na universidade que, de repente, me tornei bonita, linda!! Homens que eu sempre desejei, me desejavam. Nem entendia como esta mágica aconteceu. Eu não era magrela, alta, pegra, beiçuda? Repentinamente, fui convidada, mais de uma vez, até para fazer fotos, para virar modelo. Eu modelo? Aos poucos fui me observando neste novo contexto, convivendo com jovens de várias classes sociais, majoritariamente da classe média à classe AAA, a educação era outra. Era um instituto de artes. Eles estudaram maracatu, MPB, simpatizavam com as religios afro-brasileiras, faziam capoeira nas horas vagas, dentre outras atividades e discussões. Quero dizer que a relação com o legado afro-brasileiro se dava na via da cultura, de que estas práticas constituiam a cultura brasileira, tão distinta, tão rica, tão exótica. Eu fazia parte desse exotismo. Como uma das poucas negras do ambiente, eu era algo autêntico,  algo raro a ser vivenciado, como se tudo, incluindo as pessoas negras e, particularmente as mulheres negras, pudessem ser uma experiência num mundo em que a experiência faz parte do ser de uma forma exacerbada. Um elogio coisificado, quase ofensivo. Entretanto, as moças brancas continuavam a ser as prediletas para se formalizar uma relação bilateral, de certa igualdade. Alguém me convidou para um jantar? Não.
Ao longo da minha vida, vi a mulher branca, loira natural ou com cabelos pintados ser valorizada, por homens e mulheres, brancos e negros, como o padrão de belo a ser copiado por todos, No mínimo para ser aproximado dele. Como me entristece as mulheres negras que não refletem sobre as suas próprias histórias e riem dos cabelos das que os usam de forma natural, fruto de um longo, doloroso e consciente processo de se aceitar como se é negra. Outro dia, no Rio de Janeiro, vi uma menina negra belíssima de uns 15 anos. Muito bonita, entretanto, com cabelos curtos e maltratados devido a processos de alisamento químico. Os cabelos estavam horríveis. Percebi pela conversa que era evangélica. Brinquei com meu namorado que criaria a Igreja do Negro Natural, faria panfletos com fotos de cabelos de mulheres negras apresentados com vários penteados e com os dizeres: "Jesus te ama do jeito que Deus te criou".
Eu já quis ser loira. Eu era uma criança.
Trabalhando em museus, escolas particulares e circualndo por um circuito no qual alguns me vêem como uma intrusa, onde entro mesmo assim, sob olhares entre surpresos e incomodados, como na noite em fui asistir uma apresentação de dança de uma ex-aluna querida no Clube Paulistano, nos Jardins, à convite de sua mãe que se tornou uma grande amiga, percebo que a riqueza no Brasil tem cor, mas ela não é só branca. Quando lecionei na primeira escola particular do meu histórico profissional, me espantei om a qualtidade de crianças brancas e loiras de olhos claros. Nunca havia visto tantos loiros juntos. Todos ricos. Entrei na propaganda publicitária! Surpresa e revolta tomaram conta de mim. Ao mesmo tempo em que sempre mantive uma atitude imparcial, demonstrando para eles, quando possível e de forma não agressiva, o quão privilegiado era o contexto no qual os mesmos vivem. Nas outras institutções o público atendido era o mesmo. Será que meus antepassados não trabalharam o suficiente? Ao contrário. Só trabalharam, mas lendo "Diploma de Brancura", do porto-riquenho Jerry Dávila, é possível conhecer os caminhos que nos levaram a esta realidade absolutamente planejada pelo governo Vargas e visível até hoje nas institutiçoes públicas e mesmo na sociedade brasileira. As instituições de educação como demarcadores e separadores sociais, escolas públicas e particulares, ricos e pobres, brancos e negros. 
A eugenia, enquanto pseudo-ciência, subsiste nas entranhas da sociedade brasileira em todas as dimensões das nossas vidas. Aqui, voltada para o binômio branquitude-riqueza, branquitude compreendida enquanto o fenótipo ariano, veremos que ela está mais presente do que imaginamos. O fato de muheres negras não se sentirem sensuais e clarearem as peles para se aproximarem do padrão branco e loiro, demonstra isso, afinal, 77% das mulheres nigerianas utilizam esse recurso, bem como atrizes e cantoras brasileiras e norte-americanas. Isso é aceitar passivamente os padrões que os meios audiovisuais e a cultura de massa nos impõem como belo.
O projeto "Também quero ser sexy!" é um grito. Não de socorro. De revolta. Contra estes modelos que não correspondem à maioria das aparências das mulheres brasileiras. Contra a riqueza branca e a pobreza negra. Contra os "Black Faces" que ridicularizam a condição da população negra no Brasil. Contra a Globo que elege Camila Pitanga como a negra mais linda do Brasil. Contra a invisilidade das mulheres negras. Contra a mutilação do corpo feminino que não corresponde aos vários exemplos platinados de beleza ovacionados pelo cinema, pelas revistas, pelos meios de comunicação e de entretenimento das massas. Contra o desamor ao diverso que é o ser humano.
Contra o desamorosidade...
Espero que o projeto passe, espero que ele se concretize, que possamos via arte discutir a criação, as estéticas possíveis, a arte como mediadora das questões da sociedade, como forma de expressão. Afinal, já perguntava Aracy Amaral "Arte pra quê?.
Acompanhe alguns imagens da performance cuja equipe foi composta por:
Crioulla Oliveira - fotógrafa
André Moncaio - video maker
Simone Soares - maquiadora
Thays Quadros - produtora

Indico todos como profissionais!

Em breve, mais informações e reflexões acerca desse projeto redigidas pelo crítico de arte, curador e Mestre em Antropologia Social Alexandre Araujo Bispo e pelo artista visual e pesquisador Marcelo De Salete.

Aqui, imagens da performance "White Face (and Blonde Hair)", realizada na Rua Oscar Freire em fins de 2012.
Ufa...